TRT do PR terá 1º juiz cego do país
Desembargador trabalhava havia 18 anos no Ministério Público do Trabalho e disse que não terá problemas para julgar os processos
Ricardo Tadeu da Fonseca, 50, tomará posse na próxima semana como o primeiro juiz cego a trabalhar em um tribunal brasileiro. Ele vai atuar como desembargador do Tribunal Regional do Trabalho da 9ª região, em Curitiba.
Fonseca foi nomeado magistrado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, com quem teve uma audiência ontem em Brasília. Conversaram sobre política internacional e ações afirmativas, disse o juiz.
“Sempre quis ser juiz. Realizei um sonho”, afirmou Fonseca, que se formou na USP (Universidade de São Paulo). No terceiro ano de direito, aos 23 anos, perdeu toda a visão, e os colegas passaram a gravar leituras do conteúdo dos livros e das aulas para ajudá-lo.
Depois de um início de carreira como advogado, tentou ingressar na magistratura.
Em 1990, Fonseca foi aprovado na fase escrita para um concurso de juiz do trabalho, mas foi desclassificado em razão da deficiência visual.
Mesmo barrado, não recuou. “Nunca desisti em nada.” Sua mãe, afirmou Fonseca, dizia que o estudo permitiria que ele superasse os próprios limites.
Em 1991, foi aprovado em concurso para o Ministério Público do Trabalho. Ficou em sexto lugar, numa lista com 5.000 candidatos. “As pessoas não devem acreditar nos limites que querem impor a elas.”
Fonseca afirmou que, na corte, não terá problemas para julgar os processos. Ele citou a experiência de quase duas décadas como procurador do trabalho. A seu favor menciona ainda os conhecimentos da leitura em braile e domínio dos programas de computador para deficientes visuais.
Disse que também não terá problemas em analisar documentos. “Os meus assessores vão descrever o documento e, através do que eles disserem verbalmente, eu vou fazer o juízo de valor”, afirmou ele.
“Os juízes, quando têm que analisar um documento em língua estrangeira, se louvam do tradutor juramentado. Comigo é exatamente igual”, disse.
Fonseca, que fez mestrado e doutorado, disse ter desenvolvido técnicas de audição que o auxiliam no despacho rápido dos casos. “Nunca tive problema de prazo nem como advogado nem como procurador.”
(Fonte: Folha de São Paulo, 18/07/2009)