14 de outubro de 2013

Correndo para fugir do estresse

Juízes do Trabalho adaptam rotina profissional para incluir a prática diária de atividades físicas em busca de qualidade de vida

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Juiz Luiz Alves começou a correr em 2005 e já concluiu dez maratonas

Cresce a cada ano o número de juízes do Trabalho que buscam na prática de atividades físicas o equilíbrio necessário entre a vida profissional e pessoal. O estresse gerado pelo excesso de trabalho, metas e prazos a serem cumpridos é apontado como a principal causa dos altos índices de problemas de saúde entre os magistrados, como insônia, pressão arterial alta, baixa imunidade e depressão.

Pesquisa do Tribunal Regional do Trabalho do Paraná revela que 40% dos magistrados em atividades apresentam sintomas de estresse. O quadro nacional é ainda mais assustador. Estudo da Associação Nacional dos Magistrados da Justiça do Trabalho (Anamatra) aponta que 64,3% dos juízes trabalham nas férias e 70,4% aos finais de semana mesmo em condições extremas de cansaço. Além disso, 18% não realizam pausas durante a jornada e 69,5% se alimentam em horários irregulares por causa do trabalho.

“Em 2005, devido a um sério problema de saúde precisei de tratamento durante seis meses, sendo que o pior efeito colateral da medicação era depressão. Foi quando me interessei pela corrida, que libera altos níveis de endorfina e contribui para sensação de bem-estar”, conta o juiz Luiz Alves, diretor de informática da Amatra IX. Ele já concluiu dez maratonas, sendo a mais recente em Porto Alegre, no mês de junho, com o tempo de 3h16m15seg, ótimo para a sua idade, 54 anos.

Para o magistrado, o exercício físico proporciona bem-estar geral melhorando o desempenho em todas as atividades, inclusive profissional. “Correr é ótimo para a saúde, gera qualidade de vida e facilidade de manter o peso, além de proporcionar novas experiências e amizades”, avalia Luiz Alves.

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Correr diariamente tornou-se necessidade para os juízes Izabel Amorim e Felipe Calvet

A juíza Izabel Maria Bueno Amorim é outro exemplo dos benefícios que a atividade física pode trazer. Quando criança, a magistrada chegou a participar de provas nacionais de natação, sempre com o incentivo dos pais, mas a dedicação aos estudos passou a exigir tempo integral. A prática rotineira de esportes só retornou para sua vida há três anos, quando ingressou na carreira da magistratura do trabalho.

“Como juíza substituta tenho dificuldade de manter horários e seguir um programa de academia, mas encontrei na corrida uma opção de exercício completo, que posso praticar conforme minha agenda”, revela Izabel. “Correr diariamente se tornou uma necessidade e posso dizer com absoluta certeza que levo uma vida saudável, tendo inclusive mais disposição para os desafios da profissão”, completa a magistrada, que também participa de diversas competições.

Recomendação médica

O sedentarismo, que pode desencadear muitos problemas de saúde, já é considerado uma epidemia mundial. No Brasil, recente levantamento do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) revela que apenas 10,2% da população acima de 14 anos pratica alguma atividade física.

Porém, antes de começar uma atividade é imprescindível passar por uma avaliação profissional. “Nenhum homem consegue compensar o sedentarismo e os maus hábitos alimentares da semana com uma corrida no parque ou uma pelada com os amigos no sábado”, afirma o preparador físico Bruno Coelho Meira.

Todo o cuidado é pouco. O ortopedista Ademir Antonio Schuroff alerta para riscos de praticar exercícios sem acompanhamento médico. “O futebol, por exemplo, é um esporte de contato, alto impacto e explosão. Um esportista amador mal preparado pode sofrer graves fraturas e rompimentos de ligamentos”, exemplifica.

Na opinião do especialista, magistrados devem praticar exercícios para prevenir outros tipos de doenças relacionadas ao desempenho de atividades corriqueiras da profissão. “São pessoas que passam muito tempo dos seus dias sentados, em frente ao computador, o que propicia o aparecimento de dores crônicas decorrentes das LER/DORT (Lesões por Esforços Repetitivos/Distúrbios Osteomusculares Relacionados ao Trabalho)”, avalia o médico.

No caso do juiz Felipe Augusto de Magalhães Calvet, diretor do Curso Preparatório da Escola da Associação dos Magistrados do Trabalho do Paraná (Ematra-PR), a prática de atividades físicas foi além da recomendação médica. “Sofri um acidente de carro em 2009 e passei meses em recuperação de uma fratura no pé. Aos poucos comecei a correr, com orientação de um personal trainer, e as dores sumiram completamente”.

O magistrado afirma que não consegue mais ter um dia produtivo sem correr logo cedo. “Acordo todos os dias às cinco da manhã para treinar. Corro entre 10 e 18 quilômetros. Se não sigo essa rotina, sinto que o rendimento no trabalho é menor, a concentração diminui e a indisposição aumenta”, diz Calvet.

Incentivo

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Juízes-atletas de diversas regiões do país participaram da corrida de 10km dos Jogos Nacionais da Anamatra, em 2012, no Parque Nacional do Iguaçu

Para a diretora de Esportes da Amatra IX, Valéria Rodrigues Franco da Rocha, é fundamental chamar a atenção para a questão da saúde e da qualidade de vida do magistrado. “O excesso de trabalho faz com que muitos magistrados deixem de lado os cuidados com a saúde”, destaca a juíza.

A busca por saúde e qualidade de vida deve ser uma preocupação contínua do magistrado. “Esperamos prosseguir com esse processo de conscientização, através da realização de eventos como os Jogos Nacionais da Anamatra, contribuindo para a melhora das condições de trabalho dos juízes”, ressalta Valéria Rocha.

Os Jogos Nacionais da Anamatra acontecem anualmente. A primeira edição, em 2005, reuniu 300 participantes, entre magistrados e familiares. No ano passado, em Foz do Iguaçu, esse número subiu para 500. O evento promove competições de corrida rústica, caminhada, futebol society, tênis, vôlei de praia, natação, tênis de mesa, dominó e xadrez. Saiba mais em www.jogosnacionais.com.br