10 de setembro de 2024

Um olhar sobre o trabalho invisível de cuidado e a pobreza de tempo

A juíza Ana Paula Sefrin Saladini, titular da 1ª Vara do Trabalho de Londrina (PR), lança nesta quarta-feira (11/9) seu mais novo livro: Trabalho Invisível de Cuidado – Pobreza de Tempo e Equidade de Gênero (Ed. Venturoli). A obra aborda como as tarefas de cuidado, que englobam desde o trabalho doméstico até a assistência a crianças e idosos, contribuem para a perpetuação das desigualdades de gênero no Brasil. O evento de lançamento será realizado às 16h, na sede do Tribunal Regional do Trabalho do Paraná (TRT-PR).

Com quase três décadas de atuação como magistrada e pesquisadora, Ana Paula Saladini é doutora e mestre em Ciência Jurídica pela Universidade Estadual do Norte do Paraná (UENP). Ela também é gestora regional do Programa Trabalho Seguro e membro do Comitê Gestor Regional do Programa de Equidade de Raça, Gênero e Diversidade do TRT-PR.

O livro reúne experiências pessoais e profissionais da autora, que observa como a maternidade e as responsabilidades familiares ainda representam grandes desafios para a ascensão profissional das mulheres. Desde os tempos de faculdade, quando foi desencorajada a seguir carreira pública por estar grávida, até os casos de discriminação vividos em sua carreira, a juíza Ana Paula Saladini destaca as dificuldades que as mulheres enfrentam em comparação aos homens.

Autora, juíza Ana Paula Sefrin Saladini, é titular da 1ª Vara do Trabalho de Londrina (PR)

“A igualdade entre homens e mulheres ainda é uma ficção jurídica”, afirma a juíza na introdução do livro. Para ela, apesar dos avanços legais e sociais, a discriminação de gênero continua presente, especialmente no que se refere à sobrecarga do trabalho de cuidado que recai sobre as mulheres. “Embora estejamos todos cansados do debate sobre a necessidade de respeitar a diversidade no mundo do trabalho, ainda precisamos falar sobre isso”, diz a autora.

A pandemia de Covid-19 intensificou o debate sobre a divisão desigual das responsabilidades domésticas. Com o confinamento, o trabalho remoto e as tarefas domésticas passaram a coexistir, sobrecarregando principalmente as mulheres. “A divisão sexual do trabalho doméstico não remunerado, antes em parte diluída em uma rede de apoio, passou a ser resolvida dentro das casas”, observa Saladini.

Segundo a Organização Internacional do Trabalho (OIT), as mulheres realizam 76,2% de todo o trabalho de cuidado não remunerado no mundo, dedicando 3,2 vezes mais tempo a essas tarefas do que os homens. No Brasil, de acordo com o IBGE, as mulheres dedicam quase o dobro de tempo aos afazeres domésticos em comparação aos homens, com uma média de 21,3 horas semanais, contra 11,7 horas dos homens.

“Mesmo as mulheres que trabalham fora, em comparação com os homens na mesma situação, dedicam mais tempo ao cuidado da casa e da família”, destaca a juíza Ana Paula Saladini. Ela observa que as mulheres trabalhadoras enfrentam uma vulnerabilidade particular, pois, pela divisão sexual do trabalho, acabam sobrecarregadas com o labor reprodutivo, além do trabalho produtivo. Isso dificulta a conciliação das diversas esferas de suas vidas, resultando em pobreza de tempo e discriminação no mercado de trabalho”, afirma.

No livro, a autora propõe medidas concretas para o enfrentamento da invisibilidade do trabalho de cuidado, como a implementação de políticas públicas que incentivem a conciliação, a corresponsabilidade e a coletivização. Ela ressalta, ainda, a importância de trazer esse debate para o espaço público.

Serviço
O quê? Lançamento do livro Trabalho Invisível de Cuidado – Pobreza de Tempo e Equidade de Gênero
Quando? 11 de setembro, às 16 horas
Onde? Tribunal Regional do Trabalho do Paraná – Alameda Dr. Carlos de Carvalho, 528, Centro – Curitiba-PR