XVI Conamat: especialistas da área de saúde discutem adoecimento do Judiciário
O destaque do terceiro dia do XVI Conamat foi o painel ”Adoecimento do Judiciário. A contrassaúde do magistrado”. A professora Ada Ávila Assunção, o médico Laerte IdalSznelwar e a psicóloga Marilda Emmanuel Novaes Lipp discutiram as principais causas do stress em juízes e também maneiras de evitar as consequências deste mal que aflige boa parte da magistratura trabalhista brasileira.
De acordo com o diretor Cultural da Amatra IX, juiz Luciano Coelho, que participa do evento em João Pessoa, a psicóloga Marilda Lipp, PhD. em Psicologia Clínica pela George Washington University, falou sobre problemas enfrentados pelos juízes no exercício da profissião e que podem ocasionar diferentes tipos de estresse, inclusive, em casos mais graves, a morte súbita.
“Segundo a painelista, o estresse altera o sistema imunológico, gera problemas cardíacos e traz graves consequências pessoais, como desinteresse pelo outro e indiferença por assuntos comunitários, além de aumentar o grau de vulnerabilidade do individuo. Pessoas com maior responsabilidade em suas profissões, como é o caso dos juízes, estão mais sujeitos ao estresse e ao sentimento de isolamento, que pode ser consequência de um excesso de cobranças e da falta de reconhecimento”, relata Luciano Coelho, que no ano passado publicou artigo sobre o assunto (leia aqui).
A especialista, que é também diretora presidente do Instituto de Psicologia e Controle do Stress (IPCS), mostrou dados de pesquisa realizada por ela com juízes da Amatra 15. “Quem lidera o nível de estresse no Brasil são os juízes, 70% apresentam sinais significativos de estresse excessivo e 78,7% alegam ter uma má qualidade de vida”, afirmou. “Há também uma grande porcentagem de juízes com má qualidade de vida”, completou.
A especialista deixou algumas dicas, chamadas por ela como estratégias de enfrentamento do stress: reconhecer que precisa de ajuda; escutar o próprio corpo; refletir sobre os aspectos pessoais; praticar atividade física; possuir um hobby; fazer relaxamento; perguntar qual é o seu limite; reservar um tempo para si mesmo para dormir e ter uma alimentação adequada; compartilhar o que sente com alguém de confiança; refletir sobre a vivência e o trabalho; buscar ajuda profissional; focalizar aspectos positivos da situação de trabalho; melhorar a organização do tempo e estabelecer prioridades.
Ada Ávila Assunção, professora da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), abordou o tema com o olhar da saúde pública. Ela apresentou dados de pesquisa realizada pela universidade federal mineira, a pedido da Anamatra, que revelou dados preocupantes sobre a saúde dos juízes, como o elevado nível de stress, ansiedade e depressão. (veja aqui os resultados da pesquisa).
“Possivelmente o que explica esse estresse apresentado nas respostas de nossa pesquisa são as condições de trabalho. Se exige muito hoje em dia do magistrado, são muitas cobranças em torno do trabalho dele”, disse a professora.
Ada questionou ainda qual é o custo humano nas atuais exigências. “Grandes esforços são necessários para o desenvolvimento, mas há pouca recompensa. Recompensa não é só o salário, mas sim o reconhecimento social, a não discriminação, o reconhecimento do trabalho”, disse.
O médico Laerte IdalSznelwar afirmou que é fundamental que se trabalhe a questão da saúde na magistratura. Doutor em Ergonomia pela Conservatoire Nationaldes Art set Metiers e pós-doutor pelo Laboratoire de PsychologieduTravail et de l’Actiondu CNAM, Laerte falou aos congressistas do Conamat que é necessário buscar uma ação transformadora no âmbito do trabalho do magistrado.
“Ao contrário da doença no trabalho que, ao menos parcialmente, conseguimos identificar, e que, tenta-se combater pela não exposição aos mais variados riscos, construir a saúde no plano individual e coletivo reveste-se de um projeto de vida. Algo que diz respeito às possibilidades de se constituir cada vez como um sujeito que pode agir no mundo, que tem seus esforços reconhecidos, que evolui profissionalmente, enfim, que trilha um caminho visando a realização de si”, afirmou o painelista.
A mesa do painel foi presidida pelo diretor de Prerrogativas e Assuntos Jurídicos da Anamatra, Vitor Yamada. O integrante do Conselho Fiscal da Anamatra Leonardo Ely e o Conselheiro do Conselho Nacional de Justiça José Lúcio Munhoz também participaram da mesa.
(Com informações da Anamatra e do diretor Cultural da Amatra IX, juiz Luciano Coelho)